Acabo de assistir a uma cena do filme "Mauá: O Imperador e O Rei". Não pretendo ver o filme inteiro, que deve ser bastante razoável, porque uma única cena dele já mostrou que ele sofre de um dos maiores problemas do cinema brasileiro hoje em dia: a super-simplificação.
Na cena, o jovem Mauá conversa com uma espécie de nobre do Império. Eis uma aproximação do que é dialogado na cena:
Mauá: A escravidão é uma desgraça no nosso país.
Nobre: Mas Mauá, a escravidão é fundamental para o Império! Sem escravidão, não há império! Me diga, se você fosse Deus, o que daria para o Brasil?
Mauá: Daria... Ferro para o Brasil.
Nobre: Ferro?! Não seria melhor Ouro?!
Mauá: O Brasil já teve muito Ouro. O que ele precisa é de Ferro, Carvão, Livre Comércio, Abolição, Indústrias! O Brasil é muito elitista, e precisa de menos aristocracia e mais igualdade!
Temos aí, primeiro, a simplificação dos personagens. O nobre é 100% escravista (e portanto, "mau", pelo menos no filme) e o jovem Mauá não é apenas 100% bonzinho mas também é o maior pensador liberal do país, mesmo na tenra idade, e certamente é dada a impressão de que se ele fosse o Presidente ou Imperador o Brasil ia para a frente. Entrelinhas no cinema são implacáveis.
Em segundo lugar temos a simplificação da situação. No meio de um encontro praticamente casual, o nobre e Mauá já duelam suas ideologias implacavelmente. Nada de personalidade entre os dois, talvez alguns cumprimentos entre os dois, algum respeito de um pelo outro, alguma tensão no ar do tipo que faz você pensar "o que será que ele vai fazer agora".
É por causa de simplificações como estas, onde personagens são praticamente apenas suas ideologias e não humanos, que se pode contar nos dedos os personagens memoráveis do nosso cinema. Jogue aí uma Carlota Joaquina (só porque é interpretada por Marieta Severo) e um Zé Pequeno, talvez um Sherlock Holmes (do filme baseado no livro de Jô Soares) e acabou-se. Linklater sozinho já abateu um país todo neste quesito.
Petrus.
domingo, 18 de fevereiro de 2007
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