Minha vida como funcionário de um escritório anda bem. O trabalho é leve, a criatividade é recompensada, os colegas são boa gente.
Mas oh, São Paulo, cruel cidade senhora de sistema de transporte atroz.
O escritório fica ao lado do Metrô Vila Mariana. O Metrô de São Paulo é escelente. É rápido e dá conta do fluxo de maneira bastante razoável.
Melhor que isso, seria só seu morasse em algum lugar perto de algum metrô. Aí não haveria nenhum problema.
Sem poder voltar de metrô, o jeito é pegar um ônibus. Posso pegar dois ônibus em dois pontos diferentes do lado do metrô e que param perto de casa. Mas não tão perto assim. O caminho por ônibus demora, na queridíssima hora do rush e num dia ensolarado, UMA HORA para fazer trajeto. De manhã só me toma meia hora. A distância entre o ponto de ônibus e minha casa, calculada no Google Earth, é de 876 metros, a serem adicionados ao trajeto total tanto na ida quanto na volta.
Sempre há o caso em que o sol tira férias, e a chuva fica de substituta. Aí é divertidíssimo. Por DUAS HORAS fico como uma lata de sardinha para poder depois descer e caminhar mais um divertido bocadinho até em casa.
Farto de sofrer, fui buscar soluções para o dilema.
Ah, as soluções encontradas...
A primeira delas: caminhar até o metrô Santa Cruz (1200 metros de caminhada), e lá pegar um dos ônibus cujo ponto inicial é ali e que, efetivamente, param perto de casa (a 375 metros de distância). A maior caminhada somada se justifica por uma possibilidade de se sentar no ônibus.
O que ocorreu: A caminhada pelo agradável e poluído sonora, visual e ambientalmente caminho é tranquila e com só dois carros quase me atropelando. Mas ao chegar ao ponto de ônibus, vejo o pandemônio: em ponto de um ônibus que posso pegar, uma fila enorme com o suficiente para me garantirque eu não ficaria sentado no próximo ônibus vindouro e talvez nem entrasse no dito ônibus. No outro ônibus possível havia a mesma situação com um agravante, o ônibus já tinha chegado e várias pessoas estavam BRIGANDO FISICAMENTE para entrarem no ônibus.
No dia que vi esta imagem que epitomiza todo o problema do transporte público em São Paulo, stava ainda por cima chovendo. Achando um pedacinho de teto, fiquei mais ou menos seco enquanto esperava o ônibus. O problema é que o dito pedaço de teto não estava alinhado com a fila e duas pessoas aflitas me olhavam com um certo ódio totalitário em seus olhos.
Para resolver isto, decidi que era melhor pegar um ônibus no ponto seguinte, em que o ônibus ia parar depois de sair do terminal do metrô. Já que eu não ia poder sentar, não tinha problema.
A idéia foi boa, visto que este dito ponto era mais tranquilo e democrático. Esperei que passasse um ônibus e que eu pudsse desfrutar de apenas 375m de caminhada quando chegasse perto de casa.
Vinte minutos depois passou um ônibus que eu podia pegar e eu, farto de esperar, o peguei e fiquei UMA HORA E QUINZE MINUTOS enlatado lá. E mais, era O MESMO ÔNIBUS QUE PASSAVA NO PONTO DO LADO ONDE EU TRABALHO. Eu só o peguei uns 2.080m na frente de onde o poderia pegar e mais lotado, só isso. Aí desci ensopado no ponto certo e caminhei mais 876m sob chuva. Nada de mais.
Solução número dois: ao invés de pegar o ônibus, pego o metrô da Vila Mariana, na direção norte (moro na direção sul). Faço a baldeação na linha verde e cruzo toda a sua extensão.Desço na estação Vila Madalena (sempre confundo a Vila Mariana com a Madalena) pego a ponte ORCA, transporte por ônibus gratuito para a estação de trem da cidade universitária e baldeação idem. De lá vou para a estação Berrini de trem, desço e termino o trajeto até em casa a pé.
O que ocorreu: Bem, pegar o metrô foi baba. Mudar de estação também. O metrô estava bem vazio e fiz todo o trajeto sentado, em quinze minutos. Então era hora de pegar a ponte ORCA.
O acesso ao ônibus da ponte ORCA envolvia pegar uma senha e enfrentar uma fila GRANDE. Mas a fila grande era muito rápida, então entrei em um ônibus até rapidamente. Eu era o último passageiro e tive de sentar no fundo do ônibus (ninguém vai em pé neste ônibus), ao lado de um rapaz um tanto quanto gordo, com um ar um tanto quanto animado demais, uma camisa um tanto quanto pequena e de cor azul-turquesa demais, e uma bolsa bem excessivamente rosa. Fora isso e a rádio de música sertaneja no ônibus a viagem na ponte ORCA foi tranquila.
Chegando na estação de trem, temi que tivesse de pagar outro bilhete para utilizar o transporte. Felizmente fui avisado que meu bilhete da ponte ORCA tinha um código de barras que servia como bilhete para o trem. Descobri isso depois de me avisarem pela segunda vez que eu estava colocando o bilhete no leitor errado. Aliás, se a fila para embarcar no ônibus da ponte ORCA que peguei era GRANDE, a que tinha se formado para ir da estação de trem para o metrô era ABSURDAMENTE GIGANTESCA, e cheia de jovens e graciosas universitárias da USP que me fizeram agradecer que eu passei foi no vestibular da UEL.
A viagem de trem parecia fadada ao sucesso absoluto. A estação estava relativamente vazia. Achei que o último trecho ia ser moleza. E aí chegou o trem. Fiquei impressionado com o conforto e beleza do trem, não brinco quando digo que seu interior parecia bem limpo e de design moderno. Também não brinco quando digo que foi terrivelmente desanimador ver que todo mundo que embarca em um vagão do trem parece querer ficar bem na porta do dito cujo. Entrar no vagão requer o exercício de empurrar pessoas no caminho. Estranhamente, passando da porta e indo para o meio do vagão encontrei um grau de conforto até adequado, cheio mas mesmo assim melhor que a lata de sardinha do ônibus do lado de casa. A viagem de trem em si é até agradável, vendo o cair da noite refletido no rio.
A saída do trem, por outro lado, é o CAOS, O CAOS! Porque será que TODOS OS PASSAGEIROS DO TREM FICAM AMONTOANDO A PORTA?!?! Era só eles irem mais para o fundo que eu não precisaria ter de empurrar cinco pessoas antes de chegar a cinco metros da porta, e depois empurrar mais três enquanto era empurrado por dois que queriam entrar no trem e amontoar mais ainda a maldita porta.
Mas enfim, saído do trem das portas do inferno, era só ir para casa a pé. Foram afinal só quatro baldeações! Ah, ia me esquecendo Minha casa fica, segundo o Google Earth, 1.789 metros da estação de trem da Berrini. Ah... pernas. Apenas UMA HORA E QUARENTA MINUTOS depois que saí do trabalho já estava em casa!
Amanhã vou pegar o ônibus do lado do trabalho e pronto.
Petrus.
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2 comentários:
Sem falar que os cidadãos parecem ter uma deficiência mental ou psico-motora que os impede de entender ou praticar a regra FLUXO PELO LADO DIREITO. Você sempre deve seguir adiante pelo seu lado DIREITO, e as pessoas que vêm em sentido contrário, pelo lado DIREITO DELAS. É impressionante a quantidade de criaturas bípedes que simplesmente não lêem as recomendações sobre isso ou não levam a sério... (ou por não saberem qual lado é o direito, vão entrando nos vagões de qualquer jeito)
Hahahahahahaha! Trágico, mas convenhamos, "um tanto quanto" cômico!
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